segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

Bill Gates dá seu adeus na hora certa


Em 2008, um dos rostos mais conhecidos da tecnologia nos deixará: Bill Gates. Em julho, ele deixará a gerência da Microsoft para se dedicar completamente à filantropia. Sai no auge para um trabalho digno que, com certeza, terá competência para encarar.

Enquanto isso, a empresa que fundou começa a atravessar profunda crise de identidade, um bocado por conta da cultura que o próprio Gates criou.E não há maneira melhor para falar de Gates que não comparando-o com seu gêmeo invertido na indústria, Steve Jobs, da Apple. Jobs mal tinha chegado à idade adulta – Gates, nem isso, parecia mesmo um garoto aos 18, quando fundou a Microsoft. Muita gente estava ali no início, quando computadores pessoais chegaram à nossa vida. Mas Jobs e Gates são os pais da revolução.Gates era um hábil programador – muitos eram.
No momento em que a Microsoft nascia, toda gente talentosa em tecnologia estava envolvida com a criação de microcomputadores. Com máquinas. A princípio, aquele era um ramo para ‘hobbistas’, gente que pensava em uns e zeros.
Gates, como Jobs, achava que tinha o potencial de ser muito maior: de ser uma máquina que todos usariam.Se as máquinas não tinham programas, Bill Gates tratou de fornecê-los. Primeiro com um Basic, uma linguagem de programação mais fácil do que o difícil Assembler e que não requeria tanta técnica. Depois, na jogada que lhe criou fama e fortuna, com o MS-DOS, o sistema operacional para os computadores pessoais que a gigante IBM finalmente lançaria.A entrada da IBM no ramo foi indício de que microcomputadores eram ferramentas sérias de trabalho. A Apple, a MITS (que fazia o Altair), a Comodore, várias das empresas pioneiras sentiram o baque. Até porque todos competiam para firmar um padrão de micro. Como a IBM liberou o PC para quem quisesse fazer uma máquina compatível, levou o mercado. Mas quem ganhou não foi a IBM. Fabricantes da máquina passaram a ser muitos. Todos rodando o sistema da Microsoft.Dali para o domínio do mercado foi um pulo. Quando quase todos usavam PCs com DOS – depois, Windows –, a Microsoft controlava os trilhos. Fez de tudo para dificultar os programas de terceiros. Só seus vagões – os Words, PowerPoints, Excels e Explorers da vida – rodavam bem no sistema. E, a cada update, uma incompatibilidade surgia para a concorrência.Após duas décadas intensamente inovadoras entre os anos 1970 e 80, a mediocridade é a marca dos anos 90, quando a Microsoft domina. A inovação deixa as grandes empresas e ruma de volta para as garagens, para os hobbistas e suas criações maravilhosas, como o primeiro browser gráfico, Mosaic, seguido de seu filho, o Netscape. Mas o monopólio da Microsoft, naquilo que foi chamado a Guerra dos Browsers, consegue por fim abortar o que havia de novo e empolgante na internet inicial.Esse é o método Bill Gates: dane-se a qualidade do programa. Dane-se a facilidade de uso, a beleza. Se os gerentes de informática das empresas estiverem convencidos a comprar Microsoft, a empresa vence. É, na verdade, um mercado conservador. Gerentes em grandes empresas temem inovar. E, como dizem no ramo, ninguém jamais foi demitido por botar Windows em suas máquinas. Comprar Macs? Instalar Linux? Melhor não correr o risco. Como convencer a compra? Criando tantos problemas quanto possível para os rivais.Por um tempo, conseguiu – aí a fórmula parou de funcionar. É que o sistema operacional do qual dependia seu monopólio deixou de ser a peça fundamental da tecnologia. Ela foi para os sistemas operacionais, para a web, para gadgets que fazem parte de nosso dia-a-dia: a câmera digital, o player de MP3, o celular. Sem a capacidade de atrapalhar a concorrência dificultando sua ação, a Microsoft viu-se obrigada a inovar, a criar, coisa que jamais foi seu forte.Empresas como Google e a Apple têm vencido essa nova briga. Bill Gates sai antes que a decadência de sua empresa esteja evidente. Era hora.

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